Sunday, February 2, 2014

Sobre mansplaining

Então eu posso dizer, com algum orgulho, que perdi meu primeiro relacionamento por conta do feminismo. Duas coisas aconteceram que causaram tensão do meu lado: Eu não aceitei ser mau tratada (APLAUSOS POR FAVOR, big change) e uma discussão sobre feminismo que não chegava a lugar nenhum.


Agora, vamos falar sobre a segunda coisa. O que aconteceu com a pessoa foi um típico caso de mainsplaining. A definição de mainsplaining:



"Mansplaining is a portmanteau of the words "man" and "explaining" that describes the act of a man speaking to a woman with the assumption that she knows less than he does about the topic being discussed on the basis of her gender. Mansplaining is different from other forms of condescension because mansplaining is rooted in the assumption that, in general, a man is likelier to be more knowledgeable than a woman."


A pessoa assumiu que, por ser feminista, eu não poderia de forma alguma estar olhando para os fatos de forma crítica, que estava sendo emotiva e irracional por conta da minha visão limitada dada pelo feminismo. (O que é EXTREMAMENTE ironico, pois todas sabemos que o feminismo liberta ;))

É o que acontece, as vezes, quando alguns homens invadem espaços e discussões feministas e tentam mostrar para as mulheres como estão sendo exageradas, como a pauta feminista está toda errada, como estamos lutando por coisas sem sentido e insignificantes e como ELE pode mostrar como o movimento pode melhorar.

É uma atitude extremamente presunçosa, arrogante e ignorante. Os espaços feministas pertencem às mulheres, não é papel de homem algum querer dominar o discurso e dizer como deve ser nossa luta, assim como eu não chego no movimento negro e digo como eles devem lutar, pois eu não tenho algo que leitura NENHUMA consegue me dar: Vivência.

Homens não sabem e não tem como saber da nossa dor, das nossas experiências, por mais empáticos que sejam. Eles podem entender, mas nunca vão saber como doí. Um homem quando se torna feminista (Amem, que todos sejam um dia) faz três coisas, essencialmente: 
- Luta pelos direitos das mulheres
- Aprende a reconhecer seus próprios privilégios
- Escuta as mulheres

O problema do mainsplaining é que é uma atitude essencialmente machista, reproduz tudo que dizemos que acontece: tenta provocar o silenciamento das vozes femininas e  ocupar mais um espaço por um homem.

Homens queridos, escutem as mulheres e entendam que conhecimento nenhum, leitura nenhuma e lógica nenhuma substitui vivência.

Deixo pra você o link de um texto totalmente 'puro amor': 101 Everyday Ways for Men to Be Allies to Women

Thursday, October 24, 2013

Elogios

Uma vez li esse texto sobre como conversar com meninas, e uma coisa que sempre, sempre, sempre me incomodou muito, não só com meninas, mas com mulheres e garotas, era que o principal elogio que alguem do sexo feminino poderia receber era sobre sua beleza.

Eu tenho várias lembranças de adultos reprimindo meu feminismo desde cedo, assim como tenho lembranças de bons exemplos. Mas subversiva era uma palavra boa para me descrever. Eu sentava de perna aberta, não penteava o cabelo e andava descalça. Heck, eu ainda ando descalça!

E outra coisa que eu sempre fui, e muito, é observadora. Eu sou parte wallflower, parte humana. Então para as minhas amigas que eram mais dentro da normalidade de um padrão sexista, tudo que importava era se eram: Bonitas, comportadas e recatadas.

Coisas como a mãe que na formatura só conseguia elogiar a filha de linda, a cantora de rock que não valia nada porque era gorda, logo não se cuidava (Além de ser um péssimo exemplo, imagine nossas filhas e mulheres aprendendo que elas podem ser gordas??). A menina que tudo que fazia alguma amiga falava "mas assim é que você não vai conquistar fulano mesmo!" Fuck it! Ele que me conquiste. Conversas em grupos de meninas que giravam apenas em torno de maquiagem, cabelos, depilação, sutiãs, dietas... E as conversas no grupos dos meninos, música, jogos, RPG, ciência. Afinal, menino não tem que se preocupar com o cabelo, ele PODE passar a sua pré adolescência sendo uma criança normal, não uma mini barbie. E eu nem vou começar a falar sobre as cobranças familiares

No meio de toda essa bagunça de pré adolescência, de outras meninas pegarem nos meus peitos porque "achei que você tava sem sutiã, ainda bem, tomou jeito hein!", eu tinha algumas amigas que meio que tocavam o foda-se. Uma vez me lembro de estar em casa e uma delas tinha acabado de tomar banho. Quando ela saiu do chuveiro, disse "eu li na capricho que você tem que se secar com delicadeza pra não estragar a pele, assim..." e eu pensei "Você não!" e ela "... DANE-SE!" e se secou COMO UMA PESSOA NORMAL!!!! Caso contrário, eu teria me jogado da ponte.

Somos ensinadas desde crianças que todos esses cuidados e, foda-se, frescuras são para nós mesmas! Pra gente se sentir bem, bonita, limpa e perfumada. Mas isso é uma mentira. Tudo que uma mulher faz ou que esperam que ela faça é para alguém: Família, marido, namorado, filhos...

Somos eternamente cobradas e os elogios reforçam o que devemos ser: Lindas, comportadas, de voz calma, recadas, magras. O contrário são praticamente xingamentos, mas só pras mulheres, tá?

Queria ver se a mãe do ganhador do nobel da paz o chama de lindo para parabenizar pelo prêmio. Eu duvido.

Wednesday, October 2, 2013

" O Renascimento do Parto": o dia em que eu chorei por uma hora e meia e como eu me senti uma incubadora

Um dia desses assisti "O Renascimento do Parto", que fala da indústria do nascimento, de como no Brasil nascer é só mais um negócio e como as mulheres são levadas a acreditarem que não vão dar conta, que seus corpos são defeituosos e que não vão resistir ao parto natural... Aquele que as nossas avós, bizavós e todas as nossas lindas antepassadas tiveram...
Bem no começo do filme há uma fala mais ou menos assim: "...Antigamente o parto era coisa de mulher, elas se juntavam em um local e ajudavam o bebê vir ao mundo, foi quando o homem entrou que o parto mudou...". Na hora que ouvi isso me veio uma raiva tão grande, pensei "massa mais uma vez o homem veio e cagou tudo!". No começo pode até ter sido culpa dos homens, porém somos as responsáveis por deixar isso continuar acontecendo! É o nosso corpo! Somos nós mulheres, que já pariram, que estão gestantes e as que em algum momento da vida vão parir, que temos que dar um ponto final nessa loucura de cesárea pra todo mundo, como se fosse a coisa "normal" e mais segura a se fazer sempre... Não é!

O ato de nascer já é por si só bastante traumático, agora imagina nascer de uma maneira não natural, sendo arrancado de dentro do útero da sua mãe, assim de supetão sem você estar realmente pronto pra nascer, pois marcaram uma data que era mais convincente para alguém, pro médico pra mãe sei lá, pra alguém.

Claro que sei que há complicações que colocam a mãe e o bebê em risco e que para esses casos a cesárea é necessária.

A sensação que tenho muitas vezes é a de que as mulheres grávidas são tratadas como incubadoras, a partir do momento em que se divulga a gravidez parece que o seu corpo não é mais você, é somente uma barriga com um bebê, tocar a barriga sem ao menos perguntar para a gestante se ela está de acordo, barriga essa que quando não carregava um bebê só era tocada pelas pessoas mais íntimas, parece normal mas pode deixar a dona da barriga muito desconfortável... Pergunte antes...

Sei que ao assistir o filme percebi que mais uma vez muitas mulheres são desrespeitadas, violadas, enganadas e ensinadas que não são capazes, que são defeituosas. Chorei, chorei o filme inteiro... Mas ao mesmo tempo vi e aprendi que há algo que eu possa fazer: acreditar. Acreditar em mim, no meu corpo e na minha força. Acreditar que nós mulheres não somos defeituosas e que nós podemos optar e decidir o que fazer com nossos corpos na hora de parir!

Uma coisa curiosa, boa, foi ver que na sala do cinema tinham dois homens desacompanhados vendo o filme, homens que ficaram até o final, quis ir lá e perguntar qual o motivo de terem escolhido esse filme, o que eles sentiram depois de ver, perguntar se aquilo mudava de alguma maneira o modo deles pensarem sobre o assunto, quis dar um abraço... Mas não o fiz e jamais saberei as respostas, só posso torcer para que aqueles dois homens tenham saído do cinema e pelo menos tenham refletido sobre o assunto... Só posso torcer...

Não estou dizendo que todas fomos feitas para a maternidade, eu nem sei se eu fui feita para a maternidade imagina se eu vou saber da "aptidão" de outras mulheres (coloco entre aspas pois nem sei se existe aptidão pra ser mãe), a única coisa que eu sei é que se um dia eu decidir que é a hora eu quero decidir, quero saber , quero entender cada coisinha que for acontecer comigo, com o meu corpo e com a pessoinha que estará dentro de mim. Sei que não quero ser uma incubadora, quero ser uma mulher gerando uma vida.

Esse filme levanta várias questões, coloco o link do trailler par quem se interessar:

http://youtu.be/3B33_hNha_8

~
Le Pink Panther

Sunday, September 15, 2013

Voz e ocupação de espaços

Recentemente me envolvi mais do que antes com movimentos sociais. Isso aconteceu com o boom de manifestações de junho/julho e várias coisas chamaram a atenção: militantes antigas, mães de amigos meus, falando que sempre viram pautas feministas e LGBTTT postas de escanteio em meio a outras lutas, uma coisas que as deixava meio desanimadas com os movimentos sociais; A falta de abertura pra mulheres em assembleias, passeatas e manifestações: os megafones e palavras de ordem eram sempre de homens, muito raramente de mulheres, meio que refletindo a sociedade em si.
Eis que me deparei com esse movimento: Levante Popular da Juventude, e o que me chamou a atenção logo de cara foi uma das suas logos, muito usada, presente em várias fotos, levantada em várias bandeiras:



É um pequeno detalhe, mas nem preciso entrar no site do movimento pra saber se ele tem pautas feministas.

Wednesday, September 11, 2013

Fui convidada a escrever aqui, em princípio pensei será que eu sou feminista o suficiente?
A resposta é: não sei!

Mas a cada dia que passa vejo como um dia eu já estive do lado de lá e como isso não me representa mais...

A cada dia que passa tenho mais vontade de esfregar na cara desta sociedade machista que, nós mulheres podemos e conseguimos fazer o que quisermos!

Acho que conforme vamos crescendo temos algumas opções  e uma delas é aceitar ou não o "papel" que os outros acham que as mulheres têm na sociedade. Eu resolvi que eu fui criada para ser aquilo que eu quiser. E com a minha pouca experiência percebo que o feminismo pode me fazer ir mais além...

Espero poder trocar experiências e aprendizados,
Por um mundo melhor, por um mundo igualitário,
Por um mundo em que as pessoas sejam consideradas pelos seus adjetivos e não pelo gênero!

~
Le Pink Panther

Monday, September 9, 2013

Introspec - oque?



Há algum tempo que queria fazer um blog sobre feminismo, especialmente sobre como a minha jornada feminista tem me libertado. Queria compartilhar como cada texto lido abre portas na minha mente, trás lembranças, explicas coisas ocorridas no meu passado que na época eu não soube explicar e que agora me enche de raiva, alivio ou indignação.

Por isso pensei na palava introspectivo: como o feminismo afeta a mim mesma, minhas experiências, o feminismo dentro de mim.

Espero que gostem dos textos.

Talvez eu convide uma amiga ou outra para participar do blog, e, como uma boa introspectiva, pretendo ficar no anonimato :)

~
Lady Violet