Thursday, October 24, 2013

Elogios

Uma vez li esse texto sobre como conversar com meninas, e uma coisa que sempre, sempre, sempre me incomodou muito, não só com meninas, mas com mulheres e garotas, era que o principal elogio que alguem do sexo feminino poderia receber era sobre sua beleza.

Eu tenho várias lembranças de adultos reprimindo meu feminismo desde cedo, assim como tenho lembranças de bons exemplos. Mas subversiva era uma palavra boa para me descrever. Eu sentava de perna aberta, não penteava o cabelo e andava descalça. Heck, eu ainda ando descalça!

E outra coisa que eu sempre fui, e muito, é observadora. Eu sou parte wallflower, parte humana. Então para as minhas amigas que eram mais dentro da normalidade de um padrão sexista, tudo que importava era se eram: Bonitas, comportadas e recatadas.

Coisas como a mãe que na formatura só conseguia elogiar a filha de linda, a cantora de rock que não valia nada porque era gorda, logo não se cuidava (Além de ser um péssimo exemplo, imagine nossas filhas e mulheres aprendendo que elas podem ser gordas??). A menina que tudo que fazia alguma amiga falava "mas assim é que você não vai conquistar fulano mesmo!" Fuck it! Ele que me conquiste. Conversas em grupos de meninas que giravam apenas em torno de maquiagem, cabelos, depilação, sutiãs, dietas... E as conversas no grupos dos meninos, música, jogos, RPG, ciência. Afinal, menino não tem que se preocupar com o cabelo, ele PODE passar a sua pré adolescência sendo uma criança normal, não uma mini barbie. E eu nem vou começar a falar sobre as cobranças familiares

No meio de toda essa bagunça de pré adolescência, de outras meninas pegarem nos meus peitos porque "achei que você tava sem sutiã, ainda bem, tomou jeito hein!", eu tinha algumas amigas que meio que tocavam o foda-se. Uma vez me lembro de estar em casa e uma delas tinha acabado de tomar banho. Quando ela saiu do chuveiro, disse "eu li na capricho que você tem que se secar com delicadeza pra não estragar a pele, assim..." e eu pensei "Você não!" e ela "... DANE-SE!" e se secou COMO UMA PESSOA NORMAL!!!! Caso contrário, eu teria me jogado da ponte.

Somos ensinadas desde crianças que todos esses cuidados e, foda-se, frescuras são para nós mesmas! Pra gente se sentir bem, bonita, limpa e perfumada. Mas isso é uma mentira. Tudo que uma mulher faz ou que esperam que ela faça é para alguém: Família, marido, namorado, filhos...

Somos eternamente cobradas e os elogios reforçam o que devemos ser: Lindas, comportadas, de voz calma, recadas, magras. O contrário são praticamente xingamentos, mas só pras mulheres, tá?

Queria ver se a mãe do ganhador do nobel da paz o chama de lindo para parabenizar pelo prêmio. Eu duvido.

Wednesday, October 2, 2013

" O Renascimento do Parto": o dia em que eu chorei por uma hora e meia e como eu me senti uma incubadora

Um dia desses assisti "O Renascimento do Parto", que fala da indústria do nascimento, de como no Brasil nascer é só mais um negócio e como as mulheres são levadas a acreditarem que não vão dar conta, que seus corpos são defeituosos e que não vão resistir ao parto natural... Aquele que as nossas avós, bizavós e todas as nossas lindas antepassadas tiveram...
Bem no começo do filme há uma fala mais ou menos assim: "...Antigamente o parto era coisa de mulher, elas se juntavam em um local e ajudavam o bebê vir ao mundo, foi quando o homem entrou que o parto mudou...". Na hora que ouvi isso me veio uma raiva tão grande, pensei "massa mais uma vez o homem veio e cagou tudo!". No começo pode até ter sido culpa dos homens, porém somos as responsáveis por deixar isso continuar acontecendo! É o nosso corpo! Somos nós mulheres, que já pariram, que estão gestantes e as que em algum momento da vida vão parir, que temos que dar um ponto final nessa loucura de cesárea pra todo mundo, como se fosse a coisa "normal" e mais segura a se fazer sempre... Não é!

O ato de nascer já é por si só bastante traumático, agora imagina nascer de uma maneira não natural, sendo arrancado de dentro do útero da sua mãe, assim de supetão sem você estar realmente pronto pra nascer, pois marcaram uma data que era mais convincente para alguém, pro médico pra mãe sei lá, pra alguém.

Claro que sei que há complicações que colocam a mãe e o bebê em risco e que para esses casos a cesárea é necessária.

A sensação que tenho muitas vezes é a de que as mulheres grávidas são tratadas como incubadoras, a partir do momento em que se divulga a gravidez parece que o seu corpo não é mais você, é somente uma barriga com um bebê, tocar a barriga sem ao menos perguntar para a gestante se ela está de acordo, barriga essa que quando não carregava um bebê só era tocada pelas pessoas mais íntimas, parece normal mas pode deixar a dona da barriga muito desconfortável... Pergunte antes...

Sei que ao assistir o filme percebi que mais uma vez muitas mulheres são desrespeitadas, violadas, enganadas e ensinadas que não são capazes, que são defeituosas. Chorei, chorei o filme inteiro... Mas ao mesmo tempo vi e aprendi que há algo que eu possa fazer: acreditar. Acreditar em mim, no meu corpo e na minha força. Acreditar que nós mulheres não somos defeituosas e que nós podemos optar e decidir o que fazer com nossos corpos na hora de parir!

Uma coisa curiosa, boa, foi ver que na sala do cinema tinham dois homens desacompanhados vendo o filme, homens que ficaram até o final, quis ir lá e perguntar qual o motivo de terem escolhido esse filme, o que eles sentiram depois de ver, perguntar se aquilo mudava de alguma maneira o modo deles pensarem sobre o assunto, quis dar um abraço... Mas não o fiz e jamais saberei as respostas, só posso torcer para que aqueles dois homens tenham saído do cinema e pelo menos tenham refletido sobre o assunto... Só posso torcer...

Não estou dizendo que todas fomos feitas para a maternidade, eu nem sei se eu fui feita para a maternidade imagina se eu vou saber da "aptidão" de outras mulheres (coloco entre aspas pois nem sei se existe aptidão pra ser mãe), a única coisa que eu sei é que se um dia eu decidir que é a hora eu quero decidir, quero saber , quero entender cada coisinha que for acontecer comigo, com o meu corpo e com a pessoinha que estará dentro de mim. Sei que não quero ser uma incubadora, quero ser uma mulher gerando uma vida.

Esse filme levanta várias questões, coloco o link do trailler par quem se interessar:

http://youtu.be/3B33_hNha_8

~
Le Pink Panther